Johnny Magrão é um velho conhecido dos frequentadores da Galeria do Rock, no Centro de São Paulo. No local, comanda a tradicionalíssima loja Aqualung Records. Se o trabalho dele é esse, sonho de consumo de uma porção de pessoas que curtem som, o que faz nas horas vagas? Toca violão, canta, escreve letras e compõe com talento de artista que, na bagagem, carrega anos de estrada. Essa é, ao menos, a percepção que se tem do álbum de estreia de Magrão.
Musculoso, substancioso e vigoroso, entre tantos outros predicados que poderiam ser listados depois de uma audição atenta aos detalhes, Qual Que É soa basicamente rock and roll setentista. Nem por isso deixa de reunir elementos de outros estilos e gêneros, como blues, rock progressivo e até MPB. Em determinados momentos, a mistura gera um quê Clube da Esquina.
Das 11 canções do CD, dez são autorais. Penúltima faixa do repertório, “Gigante Gentil” é a única que foge à regra. Trata-se de uma versão de “Red, White and Blue”, do Lynyrd Skynyrd. Na releitura de Magrão, as cores dos Estados Unidos dão lugar, respeitando-se a ordem cantada, ao amarelo, verde, branco e azul do Brasil.
Ao lado das boas composições, que grudam no cérebro, a parte instrumental é um dos pontos altos. As canções ganharam o peso da mão, da trajetória e da experiência de músicos como Edu Ardanuy, Faiska, Luiz Carlini (guitarras), Andria (baixo) e Ivan Busic (bateria).
O hard rock “Vento a Favor”, é uma excelente mostra da qualidade técnica ouvida em todo o material. Talvez soe Golpe de Estado aos ouvidos de alguns; talvez pareça Dr. Sin perante os sentidos de outros, o que é bastante natural, já que a execução ficou a cargo do trio formado por Edu e os irmãos Busic; afora tudo isso, em certos trechos a voz de Magrão remete sutilmente a Roberto Frejat, do Barão Vermelho.
2 - “Mensagem”, trilha caminho semelhante. De diferente, traz assovios e compassos complexos que, de tão bem-encaixados, fluem da forma mais espontânea possível. Harmonicamente impecável, exibe curvas rítmicas que, uma vez mais, mostram o talento dos responsáveis pela cozinha.
3 - “Arte da Sorte”, a pegada muda de rumo e as baladas ganham espaço. Magrão a concebeu com Felipe Mendes e Jadson Gallego, do grupo pernambucano Rhudia, com quem divide os vocais. Aliás, o timbre do parceiro até chega a lembrar Milton Nascimento, referência que aumenta o teor MPB da obra.
4 - Composta em 1985 por Diogo Tassinari para sua primeira banda (Carater Geral), daí saiu o nome do disco. Onde destacam-se a bela melodia e a atmosfera transmitida pela letra e a guitarra Lap Steel de Luiz Carlini .
5 - “Costela de Adão” aborda a relação de amor e tesão entre um homem e uma mulher de maneira espirituosa e inteligente. Com a leveza e a beleza de palavras pensadas com a cabeça de um poeta. Outro elemento que chama a atenção é a linha de baixo, uma das melhores de todo o disco. O instrumento parece cantar com Magrão.
6 - O clima quente desemboca no romantismo de “Por Onde For”, em que o protagonismo fica a cargo dos violinos de Cassio Polleto.